A dor que afoga

Quando você é pequeno, se torna simples pensar em um mundo onde tudo é mágico e fácil, onde não existe tanta complicação e não cabe a palavra “dor” em sua vida que não seja para mencionar um joelho ralado por alguma brincadeira, pelo menos esse era meu mundo até uns 10 anos.

Mas, então, você cresce e ganha idade suficiente para entender que tudo é complicado, que o mundo não é simples como nos livros de contos de fadas e não existe um final “feliz para sempre”.

Um dia eu conheci um sentimento diferente, eu não sabia nomear ele por que até então ele não se fazia presente na minha vida, mas em pouco tempo ele ganhou um força inexplicável e que me deixava sem chão, descobri que esse sentimento era uma tristeza, uma vazio, uma dor que afoga e percebi que eu tinha um problema do tamanho de um tsunami vindo na minha direção com toda a força que se existe no mundo.

Eu me afoguei, não sei se na dor ou nas minhas lágrimas que escorriam quentes e salgadas pelas minhas bochechas, eu sentia meu corpo doer e meu coração sofrer em agonia, eu passei tempos e tempos tentando achar uma saída logo após descobrir que essa dor também poderia ser um labirinto, a beira de um abismo, um avião despencando do céu com toda força do mundo.

Eu falei da dor para todos a minha volta, era quase uma súplica para que alguém fizesse ela parar de me consumir, eu via os olhares de pena que lançavam para mim, como se pensassem “ela parece tão pequena e frágil e tudo isso consome a pequena alma dela”, não era mentira, eu estava afundando e tentei me agarrar a tudo que pudesse me tirar disso, amores que eram vazios, amizades que não valiam a pena, pessoas que eram podres por dentro e eu achava que podiam me ajudar, eu só afundei um pouco mais.

os meus de sangue não me ouviram, me disseram que eu não tinha problemas reais para sentir tanta “dor” do jeito que eu descrevia, e aí eu afundei de uma vez só.

Era enlouquecedor sentar no meio da cama, no total escuro e chorar com todas as minhas forças, sentir meu coração se desmanchar e sangrar sem parar, as marcas que eu deixava no meu corpo que pareciam amenizar a dor interior, os dias sem comer, sem dormir, sem sair da cama, os dias que as lágrimas me acompanhavam em todos os lugares que eu me fazia presente.

Eu soube que era o final quando eu acordava chorando simplesmente por não ter partido enquanto dormia, então essa ideia me dominou, e se eu dormir para sempre? Eu não vou sentir a dor da vida saindo de dentro de mim, meu coração não vai mais se rasgar e se machucar a ponto de eu querer arrancar ele de dentro do meu “eu”.

Então eu o fiz, no dia 26/09/2021 e agora já se passou quase um ano, mas eu ainda me lembro todos os dias daquela madrugada em que eu chorei até não ter mais lágrimas dentro de mim, onde eu me machuquei até ver o sangue escorrer pelo meu corpo, onde eu apaguei, pois é isso que acontece quando você toma tantos remédios fortes e mistura eles com tantos outros, eu queria uma overdose, eu queria morrer, eu queria fazer parar de doer e se para isso eu precisava sentir meu corpo todo arder com feridas abertas uma última vez, se para isso eu precisasse sentir uma dor absurda no estômago, se para isso eu precisasse me ver apagando e fechando os olhos cheios de lágrimas uma última vez, eu faria e eu fiz.

Passei 4 ou 5 dias totalmente apagada dentro de um hospital, era irônico pensar nisso quando você vê que as datas são literalmente em um setembro amarelo onde existe a “prevenção da vida”, fui contra todas as regras e desisti da minha vida, mas não foi o fim, eu voltei, eu vi meu corpo todo machucado, a dor não foi embora e acabou que só aumentou o dobro, eu ainda continuo pensando naquela noite, no dia que tomei a decisão, no quanto eu implorava chorando para o universo mandar qualquer coisa que fosse capaz de me salvar.

Eu ainda tenho as marcas no corpo e na alma como uma tatuagem, hoje ainda dói do jeitinho que doía a um ano atrás, mas eu decidi lutar por mim, mesmo sozinha nesse mundão.

Têm dias que dói feito um inferno e tem dias que eu mal lembro que dói, tem vezes que eu passo dias sem comer e dormir e tem dias que eu não paro de comer e passo a maior parte do tempo dormindo.

Eu estou lutando, com todas as forças que ainda existem aqui dentro, eu estou tentando salvar a pequena “lolo” que existe dentro de mim, estou batendo de frente com o mundo e com tudo que ele joga em cima de mim.

Têm dias que é difícil, esses são os dias que eu fico silenciosa e quase não falo, mas ainda assim eu continuo nadando e nadando e esperando o dia que vou chegar na beira da praia, eu estou cansada e admito isso para todos, minha fisionomia está mostrando o quão cansada me sinto de lutar sem parar, talvez, um dia eu desista ou talvez eu ganhe a guerra de vez.

Até esse dia chegar, eu permaneço lutando, escrevendo, lendo, mergulhando nas músicas e olhando a lua todas as noites que ela se faz presente.

Espero um dia escrever que eu ganhei a guerra do jeito bom, que eu não desisti e que eu parei de despencar em máxima velocidade e aprendi a voar, eu realmente desejo isso.

Eu estou aqui e estou lutando.

Deixe um comentário

Crie um site como este com o WordPress.com
Comece agora